Passadas duas semanas de quarentena, as agências brasileiras de publicidade agora começam a se adequar de forma consistente ao sistema home office e contabilizar de forma mais clara, embora ainda em estágio inicial, os primeiros impactos da pandemia no mercado nacional. Na Talent Marcel, o modelo remoto funciona integralmente desde o dia 16 de março. Além de toda a reorganização em termos de processo e infraestrutura, para auxiliar seus colaboradores a empresa também estreou uma série no Instagram, com dicas gerais sobre a quarentena, desde a organização da rotina de trabalho em casa, até a alimentação, passando por entretenimento e cultura. Na entrevista a seguir, o CEO João Livi conta de que maneira a Talent está lidando com o período, além de traçar suas análises sobre o momento.
M&M – Como está funcionando o trabalho da agência neste período?
João – A produtividade está intacta. Aliás, até parece que aumentou. Sentimos muita dedicação de todas as equipes, que se adaptaram rapidamente à mudança de rotina e conseguiram manter todas as entregas para os clientes. De forma simples, colaborativa e bem-feita, estamos conseguindo tocar o dia a dia nesta nova realidade.O acesso às informações não sofreu nenhum impacto, já que todos podem acessar as ferramentas de trabalho de forma remota. As reuniões presenciais se transformaram em conference call, o WhatsApp também tem sido um aliado neste momento em que a comunicação rápida se faz ainda mais necessária. Tudo tem sido resolvido com os recursos disponíveis e, principalmente, com muita inteligência e comprometimento dos times.
M&M – A Talent tem o planejamento como uma característica histórica. Qual a importância dessa habilidade em tempos tão turbulentos?
João – É fundamental. É o momento de sermos ainda mais estratégicos, assertivos em nossas escolhas e organizados no sentido de buscarmos os melhores caminhos para a própria agência e principalmente para os negócios de nossos clientes neste momento tão delicado. O trabalho colaborativo do planejamento se estendeu a toda agência e isso tem sido comprovado nos últimos dias. Com o cancelamento ou adiamento de grandes eventos, é normal que os planos de comunicação tenham que ser revistos. É necessário adaptar os esforços de comunicação das marcas ao novo contexto, isso reflete não só nas entregas criativas, mas nos investimentos de mídia e planejamento estratégico também.
M&M – Como os clientes estão reagindo ao momento?
João – Todos estão muito comprometidos em tentar utilizar a força de suas marcas para contribuir com a sociedade neste momento. O que temos feito é incluir o assunto na pauta dos clientes que de alguma forma se relacionam com o tema e podem ser relevantes dentro deste contexto. O objetivo é continuar entregando uma comunicação que faça sentido e seja útil para o público e impacte de forma positiva no negócio do cliente. Isso não muda. Clientes como Mapfre e CNA, por exemplo, estão entregando conteúdos que prestam serviço para o público neste momento em que precisamos unir esforços de todos os tipos para enfrentar essa crise.
M&M – Quais devem ser os impactos no mercado publicitário brasileiro em curto, médio e longo prazo?
João – Os impactos serão sentidos por todos os mercados. Com a nossa indústria, não é diferente. A começar pela mudança de rotina no dia a dia, passando pela capacidade de adaptação, mudança de investimento e tudo mais que esse tipo de situação suscita também reflete de alguma forma no mercado publicitário. Precisamos reforçar ainda mais nosso papel de parceiros de negócios dos nossos clientes para passar por essa fase da melhor forma possível. Serviços de turismo e experiência que exigem aglomerações sentem o efeito imediato em um regime de confinamento. Nestes casos, exige-se muito mais da capacidade de planejamento e criatividade de todos.
M&M – Quais os aprendizados que a publicidade pode extrair do período?
João – A rápida adaptação a novos modelos de trabalho neste período é um dos aprendizados que podemos tirar. De repente, tivemos de mudar o modo como trabalhamos no dia a dia e isso provou que somos capazes de nos adaptarmos a situações adversas por meio do trabalho colaborativo e do senso de comunidade. Para a criatividade, o aprendizado é o exercício de pensamento crítico diante de uma situação delicada e que requer muita empatia. Criar, em momentos como este, exige ainda mais humanidade para sermos relevantes.
Crédito da imagem de topo: DKosig/iStock
Por Renato Rogenskin em Meio & Mensagem