O mundo e, em particular o Brasil, estão sofrendo fortes impactos econômicos com a pandemia da Covid-19. As perdas são gigantescas e os clubes de futebol, assim como as empresas, estão vivendo um cenário de caos em suas finanças.
Neste ambiente, o Governo publicou a MP 984 que trata do direito exclusivo de transmissão do clube mandante. Uma questão fundamental para nosso mercado, já que pela legislação atual somente é possível ter a transmissão de uma partida quando acordado pelos dois clubes que a disputam.
Com a MP é possível que, mesmo sem acordo com o adversário, um clube exerça o direito de explorar suas partidas. Este é um tema fundamental para o mercado numa época de streaming e monetização de conteúdos próprios. Mas a forma como foi realizada foi a pior possível, via MP, com 120 dias de prazo de validade e que já conta com mais de 90 emendas de deputados, uma mais esdrúxula e inconstitucional do que a outra.
E, para piorar, ficou com a imagem da MP do Flamengo, beneficiando o mais rico e financeiramente robusto clube do Brasil. Este isolacionismo do Flamengo é péssimo. A negociação individual dos direitos de TV em voga no Brasil é péssima para a união dos clubes e a possível criação de uma liga.
O desenvolvimento da indústria do futebol depende da união dos clubes, como parceiros de negócio, sendo rivais somente em campo. Esse tema dos direitos de transmissão do clube mandante é de fundamental e urgente importância, dada a pandemia. Devia ter sido realizado pelos clubes, na esfera privada, jamais via Medida Provisória.
Perdas serão enormes
O atual ambiente criado pela MP, com uma possível judicialização e falta de segurança jurídica dos direitos de TV, pode causar um estrago ainda maior que a própria crise do coronavírus. Segundo estudo recente da Sports Value, as receitas dos top 20 clubes do Brasil podem cair R$ 2,5 bilhões em 2020 por conta dos impactos da crise. Deste total, os direitos de TV podem representar R$ 500 milhões em perdas de receitas.
Com uma possível insegurança jurídica, crise do mercado de publicidade e redução dos números de partidas transmitidas, as perdas podem ser ainda maiores. Um serviço de streaming do zero demora bastante para decolar e se viabilizar. O caso da DAZN é emblemático: reduziu pela metade a mensalidade para tentar crescer no Brasil.
O streaming dos clubes se der muito certo, será uma grande receita complementar. Os direitos de TV que geram R$ 2,3 bilhões por ano e que terão uma queda considerável, já por conta da pandemia, podem ser ainda mais reduzidos, caso haja mais incertezas.
Exemplo internacional
A Espanha era um dos países que ainda negociavam os direitos de TV de forma individual. Mudou isso graças, inclusive, ao entendimento do papel de Real Madrid e Barcelona nesse processo. A Laliga alterou radicalmente o modelo de divisão de TV.
De forma organizada o mercado evoluiu para todos. Real e Barça aceitaram não crescer em TV em um ano de um novo contrato para ajudar a aumentar o bolo para os médios e pequenos. A partir dessa mudança a liga evoluiu e times médios e pequenos viram as receitas até dobrarem com TV. Hoje, são muito mais competitivos, especialmente no cenário europeu.
Foi nesse ambiente que o Barça lançou seu streaming com potencial de atingir 30 milhões de pessoas no mundo, com custo mensal de 2,99 euros. E o foco não é a transmissão em si, e sim a exploração de conteúdos antigos. E, claro, os dados e comportamento dos assinantes.
Em Meio & Mensagem por Amir Somoggi