Novembro Azul: uma história contra tabus

(Crédito:Reprodução)

Passado o mês de outubro, muitas das marcas e empresas que abraçaram a cor rosa para promover ações e programas de conscientização das mulheres acerca da importância do câncer de mama começam a trocar as cores da mensagem por tons de azul. Lançada há oito anos, a campanha Novembro Azul nasceu como um projeto de disseminação de informação do Instituto Lado a Lado pela Vida, que detectou a necessidade de quebrar tabus sobre o exame de câncer de próstata, o que ainda espanta muitos homens da prevenção e da possibilidade de ter um diagnóstico num tempo adequado.

(Credito:Divulgação)
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Inicialmente, a campanha não tinha esse nome. Quando criou a ONG, em 2008, a jornalista Marlene Oliveira – incentivada pelo amigo, o urologista Eric Roger Wroclawski – batizaram a primeira ação em prol da prevenção ao câncer de próstata de “Um Toque, Um Drible”. Materiais informativos foram distribuídos nas ruas e a mensagem também foi propagada nas redes sociais. Era a primeira forma de alertar aos homens que a prevenção à doença era mais importante do que qualquer tabu ou preconceito associado ao exame.

A mudança da mensagem inicial para o “Novembro Azul” aconteceu em 2011 e teve duas fontes de inspiração: o sucesso das iniciativas do Outubro Rosa, que em 2011 já havia criado uma forte corrente em prol da causa do câncer de mama, e a campanha australiana Movember – junção das palavras mustache (bigode, em inglês) e november (novembro) –, que trouxe a ideia de usar todo o mês para ações de prevenção à doença.

Hoje, dez anos após a criação do instituto Lado a Lado Pela Vida, Marlene Oliveira, presidente da entidade, celebra a força e o alcance do Novembro Azul. “Em dez anos criamos o maior movimento em prol da saúde do homem do Brasil. O Novembro Azul foi abraçado por outras ONGs; empresas privadas; hospitais; governos e escolas. Tornou-se uma campanha de domínio público, o que reforça que o nosso trabalho gera valor para a sociedade”, afirma Marlene.

Em entrevista ao Meio & Mensagem, a presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida conta sobre o início do Novembro Azul, detalha o mote da campanha desse ano, que conta com a participação do árbitro Arnaldo Cesar Coelho, e explica as outras causas na área da saúde nas quais a ONG também atua.

Meio & Mensagem – Como surgiu o Instituto Lado a Lado pela Vida?
Marlene Oliveira – O Lado a Lado foi criado em 2008, a partir do incentivo do falecido médico e amigo Eric Roger Wroclawski, um renomado urologista, que me incentivou a criar um Instituto para divulgar aos homens a importância da prevenção e dos cuidados com a saúde e informá-los da necessidade de realizar os exames para o diagnóstico precoce do câncer de próstata. Começamos com um site para combater a desinformação sobre esse tipo de câncer e sobre o exame de diagnóstico. Em nosso primeiro ano de vida lançamos a Campanha “Um toque um drible” nas redes sociais, em espaços públicos de grande circulação, em empresas e hospitais, com a distribuição de materiais informativos e customizados para a população em geral.

Por que razão o Instituto achou que era preciso uma campanha para conscientizar os homens a realizar exames preventivos?
Tínhamos de desconstruir estereótipos, reduzir a desinformação. Desde então, trabalhamos para alertar a sociedade sobre a necessidade do cuidado de cada um consigo mesmo. Se em 2018 ainda há brasileiros que não fazem o exame por falta de conhecimento ou por preconceito, imagine há 10 anos!

Oito anos depois, como você avalia o crescimento da mensagem do Novembro Azul e a utilização do conceito em ações e campanhas de marcas diversas?
Em 2017, nossas ações na campanha Novembro Azul impactaram perto de cem milhões de pessoas no País com a distribuição de folhetos em eventos públicos e privados; nos pedágios; estações de metrô; postagens e compartilhamentos nas nossas mídias sociais; buscas em nosso portal; chats com membros do nosso Comitê Científico; palestras em empresas; notícias na imprensa e rodas de conversas em hospitais. Em dez anos, criamos o maior movimento em prol da saúde do homem do Brasil. O Novembro Azul foi abraçado por outras ONGs; empresas privadas; hospitais; governos e escolas. Tornou-se uma campanha de domínio público, o que reforça que o nosso trabalho gera valor para a sociedade.

Qual é a mote da edição de 2018 da campanha?
O instituto completa dez anos em 2018 e decidimos buscar parceiros que nos ajudassem e ampliar esse eco e a divulgar que o Novembro Azul tem a assinatura de uma Instituição séria e comprometida com a causa e não com demandas ou interesses específicos. Estava na hora de criar uma campanha que chegasse às TVs; às rádios; revistas e jornais. A agência 4/12 acertou no tema “A Vida Não É Um Jogo”, que usa símbolos do futebol, como o árbitro e o cartão “azul”, que assumiu o papel do alerta e não da punição, para engajar não só os homens, mas todos os brasileiros. As produtoras Casablanca e Lua Nova também abraçaram a ideia, assim como o fotógrafo Claudio Gatti. Sem falar na generosidade de Arnaldo Cezar Coelho, que além dos direitos da sua imagem, nos presenteou com o seu sábio bordão: “A regra é clara!” Ele cai como uma luva para o alerta sobre a necessidade do diagnóstico precoce, que não só aumenta as chances de cura, como proporciona melhor qualidade de vida àqueles que desenvolvem o câncer de próstata, uma doença assintomática, que mata 13 mil homens por ano no Brasil e que, em 2018, deverá registrar 68 mil novos casos… o equivalente a um estádio de futebol lotado.

O instituto planeja lançar outras ações de conscientização sobre causas de saúde e/ou sociais?
Instituto já atua com outras ações e causas. Nossos pilares são: prevenção; diagnóstico precoce; tratamento e apoio aos sobreviventes. Fazemos um trabalho sério de Advocacy (influenciar nas tomadas de decisões das políticas públicas para a saúde) em três áreas: saúde do homem; doenças cardiovasculares (a primeira causa de mortes no Brasil) e ao que chamamos A Nova Cara do Câncer, com destaque à medicina personalizada. Já é consenso que os mesmos protocolos, as mesmas medicações não necessariamente terão os mesmos efeitos em pacientes com perfis e características aparentemente similares. O diagnóstico preciso a partir de exames genéticos e os tratamentos personalizados não só trazem melhores resultados como, no longo prazo, reduzirão os investimentos necessários para o tratamento do câncer. A Medicina Personalizada transformará o cenário da saúde no Brasil, não somente no Sistema Único de Saúde (SUS), como também na viabilidade econômica dos planos médicos e nas decisões de investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento que a indústria farmacêutica e de equipamentos fará.

Em Meio & Mensagem por Bárbara Sacchitiello; 16 de novembro de 2018 – 16h51

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