Hospital, cadeia, desabamento: o mundo das coproduções da Globo

(Crédito: Divulgação)

Enquanto a Globo recebia diretores de produtoras parceiras para falar sobre algumas de suas mais recentes séries no painel que encerrou as atividades de quarta-feira, 4, no Rio2C, boa parte do time da Gullane e da própria emissora estavam na cadeia. Naquele momento, profissionais davam continuidade às gravações da segunda temporada da série “Carcereiros”, fruto de uma coprodução entre Globo, Gullane e Spray Filmes.

A obra simboliza bem a atual postura aberta e mais ousada da emissora em relações às produções independentes. Já com a segunda temporada engatilhada, Carcereiros nunca foi exibida na janela principal da casa – a TV aberta. “Há mais de um ano estamos trabalhando o nome da série na mídia. Quando decidimos disponibilizar a primeira temporada na íntegra no GloboPlay, testamos uma nova janela que atende a um formato de consumo de maratona, que atende a um grande público. E o resultado foi extraordinário. Mas isso não diminuirá, certamente, o alcance que ela terá quando atingir a massa da TV aberta. Os públicos são complementares e estão dispostos a consumir de diferentes formas”, analisou Ana Gabriela, diretora de produção da Globo, que representou a emissora no painel “Produções Fora de Série”.

Produtores e diretores se reúnem para falar sobre o modelo de coprodução na Globo (Crédito: Divulgação)

Com a presença de diretores e produtoras, a apresentação focou três das coproduções mais recentes da emissora: Sob Pressão, Carcereiros e Treze Dias Longe do Sol. Em comum elas tiveram, além da abordagem de conflitos humanos e ambientação de situações que mesclam civilização e barbárie, a disposição da Globo e das produtoras de experimentarem e de permitirem uma criação conjunta, que conta com múltiplas interferências, de todos os lados. “É muito raro que um projeto chegue até nós e seja executado 100% daquela maneira. Tudo por avaliação, mudanças, reescritas, correções, até que cheguemos, em conjunto, ao modelo que parece ser o mais adequado”, comenta Ana Gabriela.

Cena de Sob Pressão (Crédito: Divulgação)

Sob Pressão, que mostra o cotidiano de um hospital público do Rio de Janeiro, é um exemplo desses ajustes de roteiro. “Tivemos contato com essa história com base nas ideias de um médico, que queria escrever um livro a respeito de suas experiências. A partir disso, desenvolvemos a ideia de fazer uma série. Conversamos com a Globo, mas após discussões, optamos, em conjunto, por fazer um longa-metragem. Aí, após o longa já pronto, enxergamos que havia sim potencial para uma série”, relembra Andrucha Waddington, sócio e diretor da Conspiração Filmes, que coproduziu Sob Pressão.

Na opinião de Andrucha, as coproduções abrem espaço para que a TV leve reflexões à sociedade. “Não que seja obrigatório produzir algo com essa proposta social, mas quando conseguimos ter uma boa história que consegue, também, retratar uma realidade difícil, podemos fazer com que as pessoas tomem conhecimento situações que são de importância geral, seja a realidade de um hospital ou de uma cadeia”, complementa o sócio da Conspiração.

A viabilização de Carcereiros também percorreu diversos caminhos. Caio Gullane, fundador e produtor da Gullane, conta que o projeto nasceu a partir da ideia da produção de um documentário, idealizado por Fernando Grostein, sócio da Spray Filmes, com o jornalista Pedro Bial, baseado no livro “Carcereiros”, do médico Drauzio Varella. “Entendemos que aquele tipo de história poderia render uma ficção e procuramos, inicialmente, a Globo Filmes. Começamos a discutir e, então, desenvolvemos o projeto da série”, conta Caio. Para retratar a jornada dos profissionais que trabalham na cadeia, as produtoras Gullane e Spray tiveram de entrar, de fato, no ambiente dos presídios e usar elementos que não se restringiam ao pilar da ficção. “Encontramos, por sorte, um presídio que ainda não havia sido inaugurado e conseguimos gravar ali todas as cenas da primeira temporada. Por ter origem em um projeto de documentário, usamos também muito material jornalístico para as cenas de rebelião, por exemplo. Acredito que essas combinações de jornalismo e ficção, ainda mais quando se trata de uma história real, acabam gerando bons trabalhos”, opina Gullane.

Ainda inédito na TV Aberta, Carcereiros vai virar filme (Crédito: Divulgação)

A saga da prisão, que ainda é inédita na TV aberta, já rendeu outros frutos. Gullane contou que a Globo e as produtoras já preparam um longa-metragem da história. E, para a segunda temporada da série, um presídio cenográfico foi construído para facilitar os trabalhos de captação de imagens. “Esse é o primeiro trabalho de série que fizemos com a Gullane e certamente teremos uma parceria longeva”, comenta Ana Gabriela.

Desafios de produção também não faltaram para a O2, que levou à tela a história do desabamento de um edifício em construção em “Treze Dias Longe do Sol”. Andrea Barata Ribeiro, sócia da O2, relembra os percalços. “Usamos mais de 900 toneladas de entulho e mais de dez mil litros de água apenas para uma das cenas de desabamento. Fazer a operação de tudo isso é algo muito exaustivo e exige um cuidado imenso com o realismo, além da disposição de toda a equipe, para que o resultado final seja de qualidade. Ficamos muito satisfeitos”, diz Andrea.

Carolina Dieckmann e Selton Mello, em cena de Treze Dias Longe do Sol, da O2 Filmes (Crédito: Divulgação)

Diretor de “Treze Dias Longe do Sol”, Luciano Moura também comenta as particularidades da coprodução de uma série para a TV. “Quando trabalhamos para a TV aberta há formatos de produção muito claros que temos de seguir. Tivemos que ter cuidado, por exemplo, de inserir ganchos em várias cenas do roteiro, para que gerasse expectativa nas pessoas a cada intervalo comercial”, exemplifica.

Independentemente do tipo de história que seja contada, a Globo afirma que o momento é de experimentar. “Expandimos as janelas de exibição, com o GloboPlay, e estamos criando novos formatos de coprodução, que também possa envolver outros pilares da emissora, como jornalismo e variedades. E continuamos, sempre, abertos a boas histórias”, finalizou Ana Gabriela.

Em Meio & Mensagem
Por Bárbara Sacchitiello
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